Transformações de gráficos de funções: Difference between revisions
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Dependendo de como você aprendeu ''(ou pior ainda, não aprendeu nada!!)'' funções na escola, os gráficos podem ser um grande desafio a ser superado. Quando resolvemos equações estamos fazendo contas aritméticas básicas e, na maior parte do tempo, sem pensar no gráfico. Unindo a visualização gráfica com operações aritméticas simples conseguimos uma interpretação mais completa dos problemas. | Dependendo de como você aprendeu ''(ou pior ainda, não aprendeu nada!!)'' funções na escola, os gráficos podem ser um grande desafio a ser superado. Quando resolvemos equações estamos fazendo contas aritméticas básicas e, na maior parte do tempo, sem pensar no gráfico. Unindo a visualização gráfica com operações aritméticas simples conseguimos uma interpretação mais completa dos problemas. | ||
Os livros que eu conheço não trazem muitas explicações a respeito da | Os livros que eu conheço não trazem muitas explicações a respeito da transladação de funções. Eles somente listam as propriedades, dão exemplos, mas não aprofundam. Eu achei que o conceito de função composta ajudaria a evitar confusões com o sinal de menos em alguns casos. | ||
Em alguns trechos eu menciono a álgebra linear porque tem conceitos da álgebra linear que ajudam a entender o que acontece com funções quando transformamos seus respectivos gráficos com algumas operações. Os professores de cálculo frequentemente mencionam que multiplicar uma função por uma constante é uma '''"operação ou transformação linear"''' sem dar maiores explicações. '''Linear''' diz respeito à deformação do gráfico ser constante. O gráfico não é ''"destruído"'' no sentido de perder o seu formato original, como curvas sendo esticadas ou retas dobradas por exemplo. '''Não-linear''' diz respeito a um fator de deformação que não é constante. O gráfico perde a sua forma original, com perda das suas proporções originais. | Em alguns trechos eu menciono a álgebra linear porque tem conceitos da álgebra linear que ajudam a entender o que acontece com funções quando transformamos seus respectivos gráficos com algumas operações. Os professores de cálculo frequentemente mencionam que multiplicar uma função por uma constante é uma '''"operação ou transformação linear"''' sem dar maiores explicações. '''Linear''' diz respeito à deformação do gráfico ser constante. O gráfico não é ''"destruído"'' no sentido de perder o seu formato original, como curvas sendo esticadas ou retas dobradas por exemplo. '''Não-linear''' diz respeito a um fator de deformação que não é constante. O gráfico perde a sua forma original, com perda das suas proporções originais. | ||
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| style="padding:1em;" | [[file:translation3.png|200px]]<br /><br />( | | style="padding:1em;" | [[file:translation3.png|200px]]<br /><br />(Sem escala) || E agora deformando o gráfico? Queremos esticar / comprimir / encolher / alargar o gráfico. Vamos multiplicar a função por <math>n</math>. Qual a diferença entre <math>nf(x)</math> e <math>f(nx) \ ?</math> No primeiro caso estamos fazendo a função crescer mais rápido, <math>nf(x) > f(x)</math> para todo <math> n > 1</math> e todo <math>f(x) > 0</math> (cuidado com as condições!). No segundo caso (cuidado com <math>nx^2 \neq (nx)^2</math>!) também estamos fazendo a função crescer mais rápido, mas ao mesmo tempo estamos mexendo no argumento. | ||
O que acontece se <math>0 < n < 1 ?</math> Para <math>\frac{1}{2}f(x) = \frac{1}{2}(x^2)</math> estamos "desacelerando" a velocidade de crescimento da função. Para <math>f \left(\frac{1}{2}x \right) = \left(\frac{1}{2}x \right)^2</math> também estamos diminuindo a taxa de crescimento da função. Infelizmente eu não posso mostrar uma animação aqui, mas conforme a constante se aproxima de zero, estamos "achatando" a parábola. Quando o sinal inverte, o gráfico também inverte. | |||
Para duas variáveis podemos deformar o gráfico ao longo de uma variável ou ambas ao mesmo tempo. Porém, multiplicar a função por uma constante irá multiplicar ambas as variáveis simultaneamente neste caso. Lembr-se que <math>z</math> depende de cada par (x,y)</math>. | |||
''' | '''Observação:''' em casos onde <math>nf(x) = f(nx)</math> for verdade, esta é uma das propriedades de uma ''transformação linear'' em álgebra linear. Para duas ou mais variáveis há algo semelhante chamado de ''função homogênea'' que não vou discutir aqui. | ||
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== | ==Reflexão horizontal do gráfico== | ||
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| style="padding:1em;" | [[file:translation6.png|200px]] <br /><br /> ( | | style="padding:1em;" | [[file:translation6.png|200px]] <br /><br /> (Sem escala)|| Quando uma função é par esta operação não faz nada na mesma. É por isto que neste exemplo eu estou usando <math>f(x) = x^3</math>. Quando a potência é impar, os parentesis não mudam o sinal. Mas quando a potência é par, aí os parentesis evitam a confusão <math>(-x)^2 \neq -x^2</math>. Para evitar a confusão mencionada eu vou usar uma função composta. | ||
<math>g(x) = -x</math> | <math>g(x) = -x</math> é uma função que não faz nada além de inverter o sinal de cada número. Cada entrada é multiplicada por -1. | ||
<math>f(g(x)) = x^3</math>. | <math>f(g(x)) = x^3</math>. É uma cúbica que foi girada | rotacionada ao redor do eixo vertical. Para cada número positivo que entramos com, <math>g(x)</math> inverte o seu sinal, depois <math>f(x)</math> calcula o cubo do mesmo número. Neste caso específico, inverter a ordem da composição das funções dá no mesmo. | ||
Quando uma função é girada | rotacionada ao redor do eixo vertical, há uma função composta "escondida" que faz a operação de inverter o sinal de cada argumento. | |||
Para duas variáveis é mais complicado. Podemos inverter o sinal de uma das variáveis independentemente da outra ou inverter o sinal de ambas ao mesmo tempo. | |||
''' | '''Observação:''' você pode ter notado um fato interessante. Quando pegamos uma função ímpear e a esplhamos, ela continua ímpar. Quando pegamos uma função par e a espelhamos, ela continua par. Graficamente isto é explicado pelo fato de que as funções propriamente já são simétricas em relação a um eixo. | ||
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== | ==Transladando a função lateralmente== | ||
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O primeiro modo de explicar isto é bem simples. O que queremos é: para cada passo <math>n</math> que dermos em <math>x</math> para a direita, queremos que cada um dos pontos do gráfico se desloque de acordo, sem ir para cima ou para baixo, nem aumentando ou diminuindo a distância entre eles. Suponha que apliquemos <math> n = 1</math>. Calculamos <math>f(1), \ f(2), \ f(3), \ ...</math>. No eixo horizontal estamos indo para a direita numa taxa constante de 1. Porém, no eixo vertical, cada imagem esta se deslocando para cima porque estamos calculando <math>x^2</math>. Ou seja, queremos que <math>f(1), \ f(2), \ f(3), \ ...</math> se mantenham na mesma altura antes e depois de darmos um passo para a direita. Como "consertamos" isto? Fazendo a operação inversa, subtraindo 1 de cada argumento da função para que assim os pontos da imagem se mantenham nas suas respectivas alturas originais. Em outras palavras <math>f(1 - 1), \ f(2 - 2), \ f(3 - 3), \ ...</math>. Portanto, para deslocar o gráfico da função para a direita por <math>n</math> unidades nós mudamos o argumento para <math>(x - n)</math>. O mesmo raciocínio é aplicado para deslocar a função para a esquerda, agora com um sinal de "+" no lugar de "-". | |||
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( | (gráfico desenhado à mão sem escala) | ||
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<math>g_2(x)</math>. | <math>g_2(x)</math>. Eu usei um índice para diferenciar a função entre antes e depois da transladação. | ||
A segunda forma de explicar isto envolve taxas de variação e a função composta. Use a função identidade e sobreponha-a com a parábola. Elas se interceptam na origem e em <math>n = n^2 = 1</math>. Vê o triângulo retângulo formado pelos pontos de origem, <math>f(n) = g(n)</math> e <math>n \ ?</math> Agora desloque as funções para a direita. O triângulo permanece intacto, o que significa que não alteramos a taxa de variação de ambas as funções. A raiz das funções, por outro lado, mudou de <math>f(0) = g(0) = 0</math> para uma uma nova posição em <math>n</math>. Como a taxa de variação da função identidade é constante, temos que <math>g(x \pm n) = x \pm n</math>. Ao deslocarmos a função identidade para baixo por <math>n</math> unidades, a sua raiz se desloca para a direita por <math>n</math> unidades também. Qual é a função que passa pelos pontos <math>(0, \ -n)</math> e <math>(0, \ n) \ ?</math> É <math>(0, \ -n)</math> and <math>(0, \ n) \ ?</math>. Para o vértice da parábola coincidir com a raiz de <math>g_2</math> temos que <math>f_2(g_2(x)) = (x - n)^2</math>. Queremos que tanto a parábola quanto a linha reta tenham a mesma altura igual a zero ali. Esta é uma forma gráfica de entender funções compostas. | |||
== | ==Deslocando funções pares ou ímpares== | ||
<math>\ \ \ f(x) = f(-x)</math>. | <math>\ \ \ f(x) = f(-x)</math>. Função par. | ||
<math>-f(x) = f(-x)</math>. | <math>-f(x) = f(-x)</math>. Função ímpar. | ||
Tanto funções pares quanto ímpares são simétricas, mas não é somente por isto que elas são pares ou ímpares! | |||
Uma função par continua par se você multiplicá-la por uma constante. O mesmo vale para funções ímpares. Pense um pouco. O fator de deformação da função é constante, o que preserva a simetria no que diz respeito aos eixos vertical e horizontal. | |||
Deslocar uma função para cima ou para baixo pode ou não preservar o fato da função ser par ou ímpar. Observe como os pontos da parábola se comportam quando deslocamos o gráfico para cima ou para baixo. É fácil ver que ela permanece uma função par. Por outro lado, a função identidade perde a propriedade de ser ímpar ao fazermos o mesmo. | |||
Deslocar a função para a direita ou esquerda preserva a simetria e o formato do gráfico, mas a função deixa de ser par ou ímpar. Pense um pouco. Se não deslocarmos a parábola lateralmente, não mudamos o formato do gráfico. Porém, alteramos o argumento. Pegue dois pontos, <math>a \neq b</math>, tal que <math>f(a) = f(b)</math>. Depois da função ser deslocada lateralmente, não temos mais <math>|a - 0| = |b - 0|</math>. O mesmo acontece com funções ímpares. Isto é, a distância entre dois argumentos é preservada quando a função é deslocada lateralmente. Por outro lado, a distância entre cada argumento e a origem deixa de ser uma igual à outra. |
Revision as of 17:54, 4 August 2022
Dependendo de como você aprendeu (ou pior ainda, não aprendeu nada!!) funções na escola, os gráficos podem ser um grande desafio a ser superado. Quando resolvemos equações estamos fazendo contas aritméticas básicas e, na maior parte do tempo, sem pensar no gráfico. Unindo a visualização gráfica com operações aritméticas simples conseguimos uma interpretação mais completa dos problemas.
Os livros que eu conheço não trazem muitas explicações a respeito da transladação de funções. Eles somente listam as propriedades, dão exemplos, mas não aprofundam. Eu achei que o conceito de função composta ajudaria a evitar confusões com o sinal de menos em alguns casos.
Em alguns trechos eu menciono a álgebra linear porque tem conceitos da álgebra linear que ajudam a entender o que acontece com funções quando transformamos seus respectivos gráficos com algumas operações. Os professores de cálculo frequentemente mencionam que multiplicar uma função por uma constante é uma "operação ou transformação linear" sem dar maiores explicações. Linear diz respeito à deformação do gráfico ser constante. O gráfico não é "destruído" no sentido de perder o seu formato original, como curvas sendo esticadas ou retas dobradas por exemplo. Não-linear diz respeito a um fator de deformação que não é constante. O gráfico perde a sua forma original, com perda das suas proporções originais.
Transladando o gráfico para cima / baixo
Refletindo o gráfico na vertical
Deformando o gráfico
Reflexão horizontal do gráfico
Transladando a função lateralmente
O primeiro modo de explicar isto é bem simples. O que queremos é: para cada passo [math]\displaystyle{ n }[/math] que dermos em [math]\displaystyle{ x }[/math] para a direita, queremos que cada um dos pontos do gráfico se desloque de acordo, sem ir para cima ou para baixo, nem aumentando ou diminuindo a distância entre eles. Suponha que apliquemos [math]\displaystyle{ n = 1 }[/math]. Calculamos [math]\displaystyle{ f(1), \ f(2), \ f(3), \ ... }[/math]. No eixo horizontal estamos indo para a direita numa taxa constante de 1. Porém, no eixo vertical, cada imagem esta se deslocando para cima porque estamos calculando [math]\displaystyle{ x^2 }[/math]. Ou seja, queremos que [math]\displaystyle{ f(1), \ f(2), \ f(3), \ ... }[/math] se mantenham na mesma altura antes e depois de darmos um passo para a direita. Como "consertamos" isto? Fazendo a operação inversa, subtraindo 1 de cada argumento da função para que assim os pontos da imagem se mantenham nas suas respectivas alturas originais. Em outras palavras [math]\displaystyle{ f(1 - 1), \ f(2 - 2), \ f(3 - 3), \ ... }[/math]. Portanto, para deslocar o gráfico da função para a direita por [math]\displaystyle{ n }[/math] unidades nós mudamos o argumento para [math]\displaystyle{ (x - n) }[/math]. O mesmo raciocínio é aplicado para deslocar a função para a esquerda, agora com um sinal de "+" no lugar de "-".
[math]\displaystyle{ g_2(x) }[/math]. Eu usei um índice para diferenciar a função entre antes e depois da transladação.
A segunda forma de explicar isto envolve taxas de variação e a função composta. Use a função identidade e sobreponha-a com a parábola. Elas se interceptam na origem e em [math]\displaystyle{ n = n^2 = 1 }[/math]. Vê o triângulo retângulo formado pelos pontos de origem, [math]\displaystyle{ f(n) = g(n) }[/math] e [math]\displaystyle{ n \ ? }[/math] Agora desloque as funções para a direita. O triângulo permanece intacto, o que significa que não alteramos a taxa de variação de ambas as funções. A raiz das funções, por outro lado, mudou de [math]\displaystyle{ f(0) = g(0) = 0 }[/math] para uma uma nova posição em [math]\displaystyle{ n }[/math]. Como a taxa de variação da função identidade é constante, temos que [math]\displaystyle{ g(x \pm n) = x \pm n }[/math]. Ao deslocarmos a função identidade para baixo por [math]\displaystyle{ n }[/math] unidades, a sua raiz se desloca para a direita por [math]\displaystyle{ n }[/math] unidades também. Qual é a função que passa pelos pontos [math]\displaystyle{ (0, \ -n) }[/math] e [math]\displaystyle{ (0, \ n) \ ? }[/math] É [math]\displaystyle{ (0, \ -n) }[/math] and [math]\displaystyle{ (0, \ n) \ ? }[/math]. Para o vértice da parábola coincidir com a raiz de [math]\displaystyle{ g_2 }[/math] temos que [math]\displaystyle{ f_2(g_2(x)) = (x - n)^2 }[/math]. Queremos que tanto a parábola quanto a linha reta tenham a mesma altura igual a zero ali. Esta é uma forma gráfica de entender funções compostas.
Deslocando funções pares ou ímpares
[math]\displaystyle{ \ \ \ f(x) = f(-x) }[/math]. Função par.
[math]\displaystyle{ -f(x) = f(-x) }[/math]. Função ímpar.
Tanto funções pares quanto ímpares são simétricas, mas não é somente por isto que elas são pares ou ímpares!
Uma função par continua par se você multiplicá-la por uma constante. O mesmo vale para funções ímpares. Pense um pouco. O fator de deformação da função é constante, o que preserva a simetria no que diz respeito aos eixos vertical e horizontal.
Deslocar uma função para cima ou para baixo pode ou não preservar o fato da função ser par ou ímpar. Observe como os pontos da parábola se comportam quando deslocamos o gráfico para cima ou para baixo. É fácil ver que ela permanece uma função par. Por outro lado, a função identidade perde a propriedade de ser ímpar ao fazermos o mesmo.
Deslocar a função para a direita ou esquerda preserva a simetria e o formato do gráfico, mas a função deixa de ser par ou ímpar. Pense um pouco. Se não deslocarmos a parábola lateralmente, não mudamos o formato do gráfico. Porém, alteramos o argumento. Pegue dois pontos, [math]\displaystyle{ a \neq b }[/math], tal que [math]\displaystyle{ f(a) = f(b) }[/math]. Depois da função ser deslocada lateralmente, não temos mais [math]\displaystyle{ |a - 0| = |b - 0| }[/math]. O mesmo acontece com funções ímpares. Isto é, a distância entre dois argumentos é preservada quando a função é deslocada lateralmente. Por outro lado, a distância entre cada argumento e a origem deixa de ser uma igual à outra.