O que não dizer para uma pessoa com depressão
De todos os pontos, o principal é que nem a pessoa que sofre de depressão nem as pessoas em volta dela controlam a depressão conscientemente. Se fosse assim, a psicologia e a psiquiatria não existiriam.
Charlatões em geral costumam fazer ou dizer o que não deveriam. As principais técnicas de manipulação de um charlatão são embelezar o próprio discurso e a oferta de soluções rápidas, mágicas ou milagrosas. Eles pouco entendem da depressão. No pior dos casos são criminosos visando explorar, se aproveitar ou são algum tipo de assassino em série. Uma enorme bandeira vermelha é se o charlatão adota ameaças e/ou coação.
Pessoalmente eu diria que a diferença entre um charlatão e alguém simplesmente ignorante ou alienado está na inocência e ingenuidade. Uma pessoa que não está visando nenhum lucro ou ganho pessoal não adota táticas de manipulação.
- Não pressione ou force a pessoa;
- Não interrompa o relato ou o raciocínio da pessoa;
- Não negue, racionalize ou minimize o emocional da pessoa;
- Não é hora de brincar de adivinhação ou de leitura de mentes;
- Não faça comparações na tentativa de mostrar um lado positivo ou uma saída;
- Não faça perguntas retóricas, indiscretas, deselegantes, invasivas ou intrusivas;
- Não ofereça soluções prontas como se você já soubesse como resolver o problema;
- Não fique criticando a pessoa pelas decisões ou atitudes que ela toma ou deixa de tomar e muito menos condene a pessoa;
- Não fique procurando culpados ou apontando responsabilidades. A depressão pode ter fatores desencadeantes claros como tragédias ou não;
- Não pergunte a causa ou a origem da depressão. Nem a própria pessoa vai saber direito e saber não é necessário para tratar a depressão;
- Não diga que a pessoa precisa ser forte, resistir ou outros sinônimos porque a depressão não é fraqueza ou falta de força. A depressão está mais ligada à instabilidade emocional do que a uma questão de força;
- Não brigue e não fique contra-argumentando. O problema é que a depressão faz a pessoa ter fortes vieses cognitivos e ficar contrariando todos os pensamentos e argumentos da pessoa não vai resolver nada;
- Não diga que é falta de fé, Deus, religião ou que a causa é espiritual. O problema aqui é o proselitismo ou a postura anti-ciência, não negar a religião e o espiritual;
- Não recomende fugir de psiquiatras e psicólogos como o diabo foge da cruz. Dizer que é melhor ficar sem do que ter um profissional ruim é uma armadilha mental, porque indiretamente induz a pensar que a depressão se resolve com força e por vezes esconde um discurso anti-ciência ou dogmático;
- Não negue a depressão por causa de uma aparente normalidade. Existem casos de depressão que são mais invisíveis e os sintomas são mais sutis. Dizer qualquer frase no sentido de que a pessoa não tem motivos para ficar depressiva ou para ter depressão não leva a lugar nenhum. Isso é julgar, mesmo que sem intenção. Por que você acabou de dizer que a pessoa tem a escolha eliminar ou vencer a depressão por força de vontade, o que não existe. Pessoas com depressão podem aparentar normalidade e aí é que vem a questão. Então a depressão não é depressão? É falsidade, enganação ou manipulação? Existem casos em que pode acontecer. Mas na maioria dos casos a depressão é real. Daí surge outra pergunta: Então a pessoa não deveria fazer tanta força para aparentar normalidade? A questão por trás desse raciocínio é que a depressão não é regulada conscientemente e o fato da pessoa aparentar esta normalidade mostra que existe uma luta ou batalha interna da pessoa com a depressão em si;
- Evite o senso comum. Não diga para a pessoa procurar apoio em familiares ou amizades se estas são as fontes de confusão, negatividade ou até de abuso. Em alguns casos nem mesmo familiares ou amizades a pessoa tem;
- Conselhos como buscar proteção, segurança, conforto, não se preocupar com isso ou aquilo, não buscar isso ou aquilo, largar A ou B são indevidos. A menos que você já saiba o que está acontecendo. Por ex: uma determinada atividade para um pode estar atrelada ao sofrimento, enquanto que para outro está atrelada a algum prazer, alguma alegria. De antemão, sem conhecer, como você vai dizer para largar ou continuar com aquela atividade?
Referências em português
- Dr. Fernando Fernandes
- Dr. Daniel Martins de Barros
- Dr. Marco Abud
- Dr. Drauzio Varella
- Dr. Rafael Kanda
- Ricardo Ventura (Não minta para mim)
- Alan Mocellim
- Pedro Calabrez (neurovox)
- Seiti Arata (Arata Academy)
Referências em inglês
- Daniel J. Fox
- Dr. Frank Yeomans
- Diana Diamond