Arte de Ambientes x Design de Níveis x Escrever. O Ego me cegou

Eu sei as diferenças, mas mesmo assim eu estava indo em direção ao fracasso. Eu li dezenas de artigos escritos por Mark Rosewater e li o livro "O ego é o seu inimigo" de Ryan Holiday faz algum tempo. Um raio me atingiu. Eu tenho um site de level design cheio de artigos e que ninguém além de mim escreve. O site não está errado por si só, mas eu confundi design com artes. O meu objetivo, supostamente, é level design e não arte de ambientes. Este é o primeiro erro que eu percebi com o tempo.
Como eu pude não ver o óbvio mesmo sabendo que artistas e designers são profissões distintas? Eu acho que a reposta é ego. Eu recebi elogios pelo meu site. Meus níveis também foram elogiados. O meu wiki de ciências também foi elogiado. É aí que o ego entrou no meio e me deixou cego. Graças aos elogios e incentivos eu senti que deveria continuar o site, adicionando cada vez mais conteúdo e acreditando que os meus níveis eram muito bons. Depois de um tempo eu estava re-re-re-lendo o que eu escrevi sobre os meus próprios níveis e percebi que estava tudo errado. Eu escrevi muita coisa sobre como eu decidi pelas texturas, iluminação, geometria e por aí vai. Uns 80% do que eu descrevi era arte de ambientes, não design de níveis. Onde estava o design nos meus níveis? Uns 20% no máximo era design.
A escrita é uma habilidade que eu supervalorizei desde a escola. Eu era bom em redação. As respostas positivas que recebi sobre os meus níveis e o site me deixaram cego. Era tudo validação alimentando o meu ego. Mark Rosewater escreveu nos seus artigos como os designers são frequentemente movidos a ego, numa tentativa de provarem que podem fazer o que quiserem. É isso. Eu estava fazendo o site numa tentativa de provar para mim mesmo que de alguma forma, por mais fantasiosa que fosse, eu estaria fora da curva e isso me colocaria num emprego numa empresa. "Olha aqui Square! Olha Google! Olha Amazon! Vejam o meu site e como eu sou bom de escrever sobre design de níveis! Olha esses níveis fora de série aqui!".
Agora vamos parar de sonhar acordado e ver a realidade pelo que ela é. Agora estou me imaginando na posição de um recrutador:
"Explique como você fez este nível. Por quê um elevador aqui e um ponto de impulsão ali? Você fez um protótipo? Como você teve a ideia?"
Eu: "Não sei. Achei que era uma boa ideia"
Empregador: "O seu sonho é ser um escritor ou roteirista?"
Eu: (risadas de vergonha)
Posso até repetir o mesmo exemplo, mas usando o meu wiki e falando de trabalhar numa empresa de TI em geral.
Eu: "Eu fiz esse wiki aqui com toda matéria de cálculo e álgebra linear."
Empregador: "Você quer publicar um novo livro, trabalhar com programação, trabalhar no google aprimorando I.A. ou dar aulas de cálculo?"
Eu: "Você me pegou! Não tinha pensado nisso..."
Empregador: "..."
(Sim, eu também já sabia que trabalhar com I.A., ser um programador em geral ou escrever um livro de cálculo são coisas bem diferentes entre si. Foi um exemplo prático. O motivo do exemplo é que eu também sei que muitas áreas de TI precisam de álgebra linear.)
Este simples exercício de imaginação me fez perceber que eu posso ter muitos vieses e algumas coisas que eu mesmo escrevi no meu site podem estar erradas ou mal direcionadas. O empregador está procurando trabalho prático e mesmo eu tendo criado níveis, todas as longas descrições que escrevi são direcionadas mais para artes. O que eu preciso fazer de verdade é pelo menos um nível com o objetivo de design primeiro, não artes. Tentar ser bom em muita coisa ao mesmo tempo não dá certo. Inclusive, isso pode ser um sinal de problema de ego também.
Se tem uma lição aqui, seria algo como "Não deixe o ego te cegar. Não ignore todas as críticas".
Outra lição relacionada com a anterior depois de uma opinião no reddit: Você não precisa saber tudo ou ser uma enciclopédia antes de começar. As pessoas têm um conhecimento limitado porque é impossível saber tudo. Mesmo assim, o reservatório de conhecimento é infinito e tentar enchê-lo é uma tarefa sem fim. Sempre haverá algo novo para aprender.
(Eu não posso falar pelos outros. Mas eu já tive contato com um aluno de doutorado em matemática que me disse que era um dos melhores alunos na escola. Quando chegou na graduação, tomou um choque de realidade. Ele não era tão bom quanto achava ser. Acredito que a mesma coisa acontece nos cursos de exatas. Deve ser comum até mesmo nos cursos de artes e música. Quantos não pensam estarem acima da média em desenho, pintura, música, poesia, esportes, mas percebem que não estão bem mais tarde na vida? Vários atletas relatam isso. O Bernardo (Bernardinho) Rezende ensina a mesma coisa)