Como suspeitar de charlatões, golpistas e criminosos?

From Henry's personal library

Essas características são sinais de alerta. Elas também valem para relacionamentos em geral:

  • Oferta de serviços. No caso de terapeutas e profissionais da saúde em geral são pessoas que tomam cuidado com não ridicularizar, não ofender, não julgar, não fazer perguntas retóricas. Eu acho que o mesmo pode ser dito de profissionais de áreas técnicas como consertos, reparos e manutenção. Os profissionais não muito cuidadosos costumam ser aqueles que pecam na humildade.

  • Apresentação. Nenhum golpista, charlatão ou criminoso espera as pessoas virem até ele(a) sem fazer propaganda. Então dominar a linguagem e a comunicação é uma necessidade de todos eles e de todas as pessoas em geral. Você teria uma boa primeira impressão de um nutricionista obeso e sedentário? Você acreditaria num psicólogo que faz piada de desgraças? A propaganda deles(as) pode incluir fotos com o presidente do país, com celebridades ou pessoas poderosas. Anúncios como "Eu treinei o melhor guitarrista do mundo", "Eu dei aulas para o ganhador do Nobel", "Eu atendi o presidente da França", etc. Entra aí uma questão ética porque isso pode configurar uma apropriação indevida de imagem de terceiros. Se for mentira que o presidente foi atendido por ex é um alerta vermelho inegável. Um exemplo não tão grave são colégios ou cursinhos que usam a imagem de um aluno aprovado sem pedir permissão primeiro e junto uma frase motivacional que não foi dita por aquele aluno.

  • Ter patrocínio. Esta é polêmica. Nem todo mundo que é patrocinado é “comprado” por uma indústria. Todo mundo precisa ter financiamento de alguma forma. Agora ser contratado por um grande grupo de mídia ou financiado por uma grande indústria já é uma questão de ética mais complicada de discutir aqui. O que eu posso dizer é que quando se tratam de grandes grupos empresariais e nomes grandes, se eles descobrem que patrocinaram um charlatão inadvertidamente por ex, a primeira atitude é cortar a relação porque a reputação e a imagem valem muito. Existem questões de falsas denúncias, sabotagem e competição desleal mas aí já entram questões muito complicadas que não sei tratar.

  • Surfar na onda do momento, imitando a concorrência e se aproveitando do assunto que está na moda. São grandes empresas que detém o poder de selecionar o que ganha mais atenção porque elas controlam o sistema por trás das buscas, redes sociais e publicidade e marketing. As questões éticas da publicidade já são muito profundas e complicadas demais para discutir aqui.

  • Sedução e coerção. Se entrar jogo de sedução, convites, ofertas e promessas tentadoras, insinuações, coerção. Aí pode ser que você esteja diante de um golpista ou criminoso mesmo. Nenhuma pessoa realmente séria tentaria te obrigar a nada, coagir ou faria insinuações na tentativa de te conquistar ou te convencer. Um alerta vermelho crítico é se essa pessoa tenta te aprisionar fisicamente ou psicologicamente. É por isso que é sempre bom saber a diferença entre relacionamentos profissionais, íntimos e familiares, porque misturar cria problemas. Adendo: tem uma questão extra que são vendedores e a publicidade. Isso já foge do meu conhecimento porque aí já entra em discussão filosófica sobre a honestidade.

  • Intrusão e dissimulação Muito cuidado com o que você passa para os outros! Um alerta vermelho crítico são pessoas que querem saber tudo de você, perguntam demais, são invasivas demais, intrusivas demais e não respeitam limites. Golpistas, criminosos ou abusadores são dissimulados e escondem as suas reais intenções fingindo que te amam ou que te adoram. Mostram um interesse muito grande em tudo que você faz e tudo que você tem. Podem ser prestativos de querer ajudar até demais. Lembre-se do ditado "Quando a esmola é demais até o santo desconfia". Por outro lado essa pessoa não quer revelar muito de si, foge das respostas esperadas, é muito reticente sobre si ou inventa muita coisa. Como saber que inventa? Você tem que ir atrás verificar. Pode, por acaso, ser uma pessoa inocente e quem sabe ansiosa, mas sem intenções exploratórias? Pode, mas veja bem, por que ela daria muitos presentes, te elogiaria demais ou mostraria tanto interesse em saber o que você tem?

  • Lado pessoal. A pessoa não está interessada em saber quem é que acredita nela. Não importa se você é rico, pobre, sexo, nacionalidade, raça, nome, nada. O que ela quer é o lucro apenas. Pergunte para si mesmo: por que essa pessoa criaria um golpe especificamente para você? Por que justo você atrairia aquele golpista, charlatão ou criminoso? Só você tem o que ela quer? Só você seria vítima ou alvo? Veja bem, crimes passionais ou vinganças são uma categoria diferente e que não é o assunto aqui.

  • Positividade ou negatividade. Discurso exageradamente positivista, progressista ou fantasioso é muita manipulação. O contrário, um discurso exageradamente negativista, pessimista ou profético também é para ficar com um pé atrás. Uma pessoa confiável não é adepta de enganar pelo exagero. Seja exagero para o lado positivo, seja para o negativo. Exagero de positividade ou de negatividade pode ser um sintoma de transtorno mental? Pode, mas eu não saberia fazer diagnóstico e vale lembrar que uma pessoa que sempre vê o lado bom ou que sempre vê o lado ruim não necessariamente sofre de qualquer tipo de transtorno só por causa disso.

  • Romantização ou dramatização. Discursos de superação no estilo de frases motivacionais. Promessas de sucesso, grande fortuna, aprendizado incrível, cura fantástica ou enorme evolução. Uma táctica usada por pessoas tóxicas ou abusadoras costuma ser se apoiarem num passado traumático, triste ou de privações. Que pode inclusive ser uma grande mentira. A propaganda pode apelar para brincadeiras, piadas ou gincanas para ganhar mais engajamento. Os anúncios podem incluir trilhas sonoras ou imagens dramáticas como por exemplo escalar o Everest, cenas de guerra ou de muito sofrimento. É o apelo emocional e que pode ser uma forma de chantagem emocional. Uma bandeira vermelha grande é o exagero nas palavras com fatalismo ou garantias infalíveis.

  • Mistério, misticismo ou magia. Oferecer soluções e respostas que ninguém ensina. Dizer que os outros escondem de você. Que a pessoa descobriu um pote de ouro super secreto. A religiosidade e a espiritualidade são frequentemente deturpadas para cooptar pessoas. Pessoas muito inocentes e/ou desesperadas costumam ser atraídas por discursos místicos, espirituais e religiosos. Quando a ciência parece não responder ou trazer a solução, o que sobra? Se não for uma religião ou doutrina, a pseudociência.

  • Terminologia técnica. Termos da engenharia, da medicina, do direito, da psicologia, da religião, etc. Isso passa um ar de autoridade, porque dá a impressão que a pessoa sabe. Esse é o problema, uma falsa imagem e são pessoas que presam pela falsa imagem de saberem. Situação parecida com usar referência científicas que já são enviesadas ou que nem sequer a pessoa leu. Agora um adendo: E se você mesmo é preciosista sem perceber? Pode ser uma questão de orgulho, arrogância, vaidade ou perfeccionismo que você mesmo não se deu conta.

  • Abusar de frases bonitas, citações literárias, citações filosóficas ou religiosas. Um discurso enfeitado sempre é atraente para a maioria do público. Isso é parte do jogo de sedução e da persuasão. Agora seduzir ou persuadir é errado? Não. Qualquer pessoa precisa saber conquistar a confiança, se apresentar bem e saber se posicionar com firmeza / clareza. O problema é se a pessoa fica apenas nisso, não mostra conteúdo e fica só nas palavras e não nas ações. São pessoas superficiais.

  • Necessidade de validação. Apelar para engajamento soltando conteúdo novo numa enxurrada que fica difícil de acompanhar. No exagero de publicidade essa pessoa está estudando e se aperfeiçoando? São pessoas que gostam muito de serem elogiadas e num exagero parecem se deprimir quando a validação acaba. Esse traço costuma indicar falta de desenvolvimento emocional.

  • Valorizar demais o diploma e o nome da instituição. É claro que se formar numa instituição de ensino famosa já dá mais credibilidade em geral, mas uma ênfase grande demais nisso acaba mostrando muita vaidade. Nem todo mundo com diploma da melhor ou maior universidade ou faculdade da área é idôneo. Um exemplo prático disso é como as pessoas conseguem falsificar diplomas e certificados por ex. Esse é um bom modo de identificar pessoas muito materialistas. Pessoas que se apoiam em títulos, certificados, nomes de empresas, nomes de instituições e se vangloriam demais.

  • Generalizar demais. Por ex: se funcionou pra mim, funciona para a maioria. Usar porcentagem fictícia do tipo 79% ou 98% (podem ser números próximos do zero para gerar alarmismo também) e esses números podem vir de pesquisas científicas inclusive. Outra forma de generalizar é dizer “todo mundo faz”, “a (grande) maioria / a (esmagadora) minoria” ou “ninguém liga”, tentando te cooptar. As palavras “sempre” e “nunca”, “tudo ou todo(as)” e “nada”, "único(a)", também podem indicar generalizações indevidas.

  • Argumentar pela raridade. Por ex: alguém que se declara uma raridade, especial, como se fosse o 1% desconhecido do resto do mundo. Se proclamar alguém diferenciado de todo mundo, com qualidades únicas ou que oferece algo que ninguém mais pode oferecer. Uma tática usada por pessoas exploratórias e predadores é te tratar como especial. A bajulação e o exagero de elogios para te conquistar. Por ex: uma maneira de bajular é concordar com tudo que você pensa ou diz. Em outras palavras, ela te valida em excesso.

  • Ser “do contra”. Ficar se auto-proclamando criativo, diferente, inovador em excesso mostra vaidade, ego e alguém querendo aparecer. Isso é um traço do narcisismo inclusive. Existem pessoas fora da curva e não há nada de errado em se sentir especial, inclusive porque não existem mesmo pessoas idênticas no mundo. O problema é isso se tornar um fator exageradamente predominante na vida. Em última instância todas as pessoas do mundo compartilham da biologia do corpo humano, de necessidades mais ou menos universais e de condições mínimas de sobrevivência. Então normas, padrões, regras, educação, sistemas, leis, não existem por nada e não é possível simplesmente querer ser criativo e inovador sendo “do contra”.

  • Críticas muito pesadas ou sem fundamento contra a ciência já existente. Passar mais tempo criticando, condenando e posando de revolucionário é uma bandeira vermelha muito grande. Pessoas que separam o mundo entre justos e injustos, merecedores e não merecedores, heróis e vilões, bem e o mal, etc. Isso inclusive é uma característica dos transtornos de personalidade. Uma pessoa que se mostra segura e confiante de si é uma coisa. Agora ficar questionando e duvidando dos outros o tempo todo já é suspeito. Inclusive, criar polêmicas é uma forma de divulgação. Por ex: dizer que suplemento de vitaminas causa doenças. Mas com base no quê?

  • Inveja, ciúmes e vitimização. Uma bandeira vermelha é desacreditar ou descredibilizar a concorrência. Por ex: satirizando ou ironizando. São pessoas que se comparam demais e isso pode ser para mais ou para menos. Se for para mais a pessoa quer mostrar superioridade e quem sabe dominância numa área ou região. É mais egocêntrica, egoísta e não aceita concorrentes. São pessoas que não gostam de perder. Se for comparações para menos ela tende a se vitimizar. A pessoa usa do discurso de que os errados são os outros e de que ela é perseguida, rejeitada, excluída, ignorada, incompreendida, vítima de pressão da sociedade ou de ataques injustos. Ela não assume responsabilidade por si ou sobre si. Ela tenta justificar o injustificável ou explicar o inexplicável. Isso costuma indicar pessoas mais irresponsáveis, inseguras e mais infantis. Um exemplo são pessoas que atribuem todo insucesso nas suas vidas ao azar ou injustiça e todo sucesso alheio à sorte ou à desigualdade do mundo.

  • Raiva e vingança. Pessoas com altos níveis de rancor, inveja e/ou ressentimento são mais provocativas e mais passivo-agressivas. Podem ser pessoas mais explosivas ou não. Um indício de inveja e ressentimento ou rancor são pessoas que se envolvem em muitas polêmicas amorosas ou disputas judiciais e quando o emocional fala mais alto costumam falar ou fazer muita besteira. Quando entra em cena o mau caratismo o resultado costuma ser as campanhas difamatórias, os ataques pessoais e a sabotagem. Tanto os diretos quanto os indiretos e o apoio a tais práticas de terceiros. Profissionais com estas condutas perdem a credibilidade e a confiança. Tudo isso é um sinal de pessoas que não crescem na vida e/ou que sofrem de traumas severos.

  • Estabilidade emocional. Profissionais altamente competitivos e emocionalmente instáveis não querem ser passados para trás, não se sentem confortáveis perdendo relevância e detestam serem contrariados. O oposto da exposição é fugir da mídia e se esconder. O que não necessariamente quer dizer humildade também. Confundir humildade com esquecimento, com ser ignorado ou com ser desprestigiado também não são bons cartões de visita. Algumas pessoas desenvolvem estabilidade emocional desde cedo, enquanto outras apenas mais tarde na vida adulta ou até mesmo nunca. Atenção! Estabilidade emocional não é o mesmo que tentar controlar o emocional por força ou simplesmente ser uma pessoa desprovida de emoções ou apática. Pessoas indiferentes ou frias também não são sinônimo de estabilidade emocional.

  • Humildade não é falsa modéstia. Ficar se auto-proclamando humilde tem algo incongruente. Porque a humildade não é algo a ser exibido como uma conquista. A humildade também não é justificava para nada. É contraditório uma pessoa usar a humildade como desculpa para fazer algo ou como justificativa para não seguir o que os outros fazem. Uma forma de falta de humildade é argumentar, por exemplo, que por ser médico(a) ele(a) sabe mais do que outro profissional que não é médico(a). Comparações que misturem hierarquias e prestígio costumam indicar esse problema. Outro sinal de falta de humildade é o exagero no discurso pregando honestidade, virtudes, moral, ética, atenção, cuidado, carinho, amor, etc de uma forma que vise passar uma imagem inabalável ou inquestionável. Se apresentar como uma pessoa impecável, sem defeitos, acima de qualquer suspeita, por vezes luxuosa, também é um alerta.

  • Armadilha da presunção e arrogância. Cuidado com características como ter estudado na mesma instituição de ensino que você, seguir a mesma religião que você, seguir uma mesma filosofia que você, ler um mesmo livro que você, gostos pessoais, dramas pessoais e outras “coincidências”. Às vezes pode acontecer de você pegar essas características como se fossem atestados de idoneidade. Às vezes podemos achar que sabemos mais do que realmente sabemos e confiamos cegamente. O golpista ou charlatão pode estar mentindo sobre seguir a religião que você também segue por ex. O mesmo acontece com relacionamentos em que você fica procurando uma alma gêmea perfeita.

  • Conhecimento. Um ponto crucial de tudo isso acima é que você mesmo não pode ser ignorante ou alienado. Você deve procurar conhecimento e esclarecimento. Comparar fontes e profissionais. Criticar. Checar. Ter ciência da sua realidade. Não é uma questão de saber ou aprender tudo que o outro sabe, mas ser capaz de discernir a verdade da falsidade. Você deve ser capaz de discernir o que funciona do que não funciona. O que é viável do que não é. O acessível do inacessível. O confiável do não confiável. O seguro do inseguro.

Referências em português

Metaforando e Não minta pra mim não são canais de psicologia e saúde mental, só que dá para aprender algumas coisas sobre manipulação.

Referências em inglês

Os canais sobre narcisismo e narcisistas costumam discutir muito a mentira, a manipulação, a falsidade e o emocional envolvido nisso tudo. Não são sobre charlatanismo, mas conceitualmente lidam com as mesmas áreas do cérebro e as mesmas questões sociais do charlatanismo.

Daniel Fox, Ramani e Todd Grande tem vídeos sobre como identificar um bom ou um mau terapeuta.