Nada está fechado ou é definitivo

From Henry's personal library

Mark é muito teimoso, mas ao mesmo tempo é capaz de dar um passo para trás e repensar as suas próprias ações. Se você decide algo, não significa que você nunca mais pode voltar atrás. Certamente significa que você vai gastar algum tempo a mais desfazendo algo, mas a alternativa é continuar empurrando algo que não faz mais sentido. Esta lição é sobre superar o seu próprio orgulho. As pessoas querem estar certas e pode ser bem difícil de aceitar que a sua decisão estava equivocada.

O aspecto importante aqui é que se você for capaz de voltar atrás, isto te liberta para tomar outras decisões. O medo de errar justamente naquilo que você está tentando criar pode ser paralisante. Os designers precisam ser ousados e tentar. As decisões não são irreversíveis. Erros que cometemos na vida não devem ser usados como desculpas para cometer mais erros ainda. Podemos e devemos reconhecer nossos próprios erros para o nosso próprio bem e para o bem alheio.


É bem fácil de entender o ponto de Mark. A sua lição é de que todo mundo comete erros, mas os sábios aprendem a partir dos erros para melhorar a si mesmos. Eu me identifico com esta lição de muitas formas. Sempre que alguém começa algo novo os erros acontecem. Todo artista ou cientista começa num nível baixo e sobe uma escada nas suas carreiras. No meio do caminho aprendemos como as coisas funcionam, como fazer previsões melhores, como fazer melhor, como fazer mais rápido, como se relacionar melhor com os outros. É certamente uma jornada longa. Eu acho que uma lição importante que Mark está tentando dar é que assim que reconhecemos um erro, a escolha de aprender com ele é nossa. Agora vem a pergunta: E se não reconhecermos o erro em primeiro lugar?

Eu li um pouco sobre transtornos de personalidade e no caso narcisista um problema fundamental é a falha em reconhecer os próprios erros (atenção, você não precisa ser um(a) narcisista para não reconhecer os próprios erros). Por quê? É bem complicado responder. Vai muito além de dizer que é simplesmente porque eles(as) não querem reconhecer. É mais complicado do que apenas força de vontade. Se auto-reconhecer é difícil e o processo de auto-aceitação pode ser doloroso. No caso de narcisistas existe um problema bem complicado de criar um falso eu que sobrepuja, sobrepõe, o eu verdadeiro. Pense na palavra "perfeição". O que é a pessoa perfeita? Existe uma? Um dos componentes chave da personalidade narcisista é a crença de que eles(as), de alguma forma, são perfeitos e todo mundo é imperfeito. É bem complicado de explicar como a mente chega neste estado porque é uma verdadeira desilusão. Como conselho aqui eu diria que você é capaz de reconhecer a sua própria imperfeição e reconhecer os outros ao seu redor como iguais. Este é um sinal de humildade.

Uma vez eu li em algum lugar que os artistas precisam aprender quando parar. Se você continuar buscando a perfeição num trabalho de arte nunca vai terminar. Há um ponto em que o artista precisa se dar por satisfeito e lançar o seu trabalho. Só menciono isto porque o perfeccionismo se relaciona com reconhecer erros. Um nível por exemplo. Alguns níveis que fiz eu me recusava a parar de fazer porque eu queria melhorar, melhorar, mudar isto, mudar aquilo. Todo o processo de buscar a perfeição era um erro em si mesmo. Um erro parecido é ser teimoso e falhar em dar um passo para trás e repensar. Você falha e tenta de novo, cegamente cometendo muitos erros porque você é cabeça dura. Uma vez eu tive uma ideia de fazer o maior nível possível apenas porque achei que fazendo um nível que explorasse todos os recursos da unreal engine iria aprender tudo num projeto só. Olhe para a carreira de Mark. Certamente ele liderou muitos sets, criou milhares de cartas, analisou centenas de ideias, cometeu centenas de erros, até chegar no nível de proficiência que ele tem na criação de magic hoje.

Tudo isso tem a ver com faculdade. Eu acho que em muitos países as famílias têm esta crença de que você precisa fazer faculdade e precisa ser de uma certa área. Primeiro, não existe uma lei que obrigue as pessoas a fazerem faculdade. É uma escolha. Se existe um país onde a faculdade é obrigatória eu não sei. Segundo, apenas porque o seu sonho era ser um artista, doutor ou piloto de corridas não significa que os sonhos são fixos. Pegue o Mark de exemplo. Inicialmente o sonho dele era ser um roteirista em Hollywood. Ele foi para Hollywood, mas não era bem o que ele esperava e a vida o levou para a Wizards, onde ele trabalha como chefe de design no ano deste artigo (2022). Eu não estou dizendo que é errado sonhar. O erro é nunca repensar decisões que você tomou. O erro é nunca tentar coisas diferentes porque você se proibiu de sequer tentá-las.

A pergunta que fiz no primeiro parágrafo poderia se desdobrar numa outra: O que acontece se não achamos que um erro é um erro em primeiro lugar? Com frequência procuramos por opiniões e o que achamos que está certo, alguém acha que não está. Ou o contrário, achamos que está errado, mas alguém pensa diferente. Para dar um exemplo prático veja as cartas de magic. Eles, os desenvolvedores e designers, frequentemente pensam que uma carta foi um erro. Mas nem todos os designers e desenvolvedores pensam o mesmo. Às vezes o que foi um erro no passado pode ser visto como algo diferente no futuro. Se você lê muitos artigos do time de pesquisa e desenvolvimento da Wizards você irá perceber que os próprios erros não são fixos. Há espaço para experimentação e para reconsiderar. O que é certo hoje pode muito bem ser considerado errado no futuro. Isso também pode acontecer.

Infelizmente eu não posso dizer você faz para superar o orgulho. Como superar o perfeccionismo. Como superar o medo. Como superar o sentimento de arrependimento. Eu não tenho uma receita e não acho que uma sequer exista. Você pode parar um momento para contemplar e questionar a si mesmo? Este seria o primeiro passo.

Nota final: Qual seria o pior erro de todos? Crimes. Mas para discutir crimes teríamos que mergulhar fundo em questões filosóficas que estão muito além da lição de Mark.

Referências (inglês)

Referências (português)