Olhe para fora da caixa somente depois de olhar dentro dela
Eles quebram regras, mas não porque podem. Eles o fazem quando há um problema que pede algo novo, uma resposta que não pode ser encontrada dentro da caixa. É aí que entra a criatividade. Os iniciantes tendem a ser atraídos pelo inexplorado porque eles querem inovar, fazer algo que nunca foi feito antes. Se não for isto, eles querem criar uma identidade própria na tentativa de serem únicos. Mark pontua um problema nesta abordagem. Primeiro você está quebrando convenções e fazendo coisas que não funcionam da mesma maneira. Segundo você está gastando espaço de design que poderia ser economizado. Terceiro você perde coerência e coesão porque está criando algo que não encaixa bem com as outras peças restantes.
Quando você adere às regras primeiro você evita todos os problemas acima. As cartas mantem uma coerência e coesão e assim menos espaço de design é gasto desnecessariamente. Mark gosta de explorar o inexplorado porque ele se sente à vontade fazendo-o. Este ímpeto para ir em direções novas é bom, mas ao mesmo tempo ele precisa ser cauteloso porque o primeiro objetivo é resolver um problema e não criar novos problemas. Com frequência o que é diferente não é melhor.
O que ele diz tem origem em viés cognitivo. Quando nos deparamos com um problema, por instinto a tendência é procurar por algo familiar. Nos perguntamos "Alguma vez já resolvi algo parecido com isto?". É assim que funciona o aprendizado de matemática. A matemática e as ciências em geral precisam de ferramentas e quanto mais experiência temos, melhor ficamos. A ciência é um processo cumulativo onde as ferramentas melhoram com o tempo. O mesmo poderia ser dito sobre Mark e design de Magic. Com o tempo eles ganharam mais e mais experiência. Ao ler os artigos e colunas de Mark uma coisa ficou clara: a maioria das cartas foi influenciada por cartas anteriores de uma forma ou de outra. Ele tem toda razão em afirmar que o espaço de design fica mais escasso com o tempo porque não existe espaço de design infinito.
O que ele diz sobre os iniciantes quererem desbravar e pavimentar novos caminhos que nunca foram antes tentados aplica-se à ciência também. Na faculdade / universidade é comum para ingressantes se sentirem que estão acima da média e isto é reforçado por notas na escola, pais, parentes, competições, olimpíadas e por ter passado no processo seletivo antes de mais nada. Eu vivenciei isto em primeira mão. Processos seletivos podem ser difíceis e geralmente são. Até que chega uma prova na faculdade e a sua nota está abaixo dos seus pares e você se decepciona com a sua própria nota, mesmo que tenha sido boa. Às vezes as pessoas se sentem o próximo ganhador do Nobel ou um gênio que vai resolver um problema que está sem solução à séculos.
No caso de problemas não resolvidos na ciência é bem improvável que algum gênio irá resolvê-lo em pouco tempo. Mesmo que alguém o faça, a solução não caiu do céu. Na matemática por exemplo, é impossível realizar qualquer progresso sem antes aprender as ferramentas mais fundamentais primeiro. Isto é algo que eu aprendi com física e matemática. Você não conseguirá resolver nenhum problema complexo sem antes saber a álgebra básica, trigonometria, leis de Newton e outros princípios básicos. Há algumas ferramentas básicas que são pré-requisitos e sem elas qualquer problema complexo se torna um pesadelo para resolver. Todo problema complexo pode ser visto como muitos pequenos problemas amarrados entre si e tenho certeza de que Mark vê o Magic da mesma forma.
Uma vez eu li um artigo interessante que mostrava que estudantes de física não conseguiam resolver problemas simples, ao mesmo tempo em que tinham proficiência com problemas mais complexos. Como isto é possível? Existe um tipo de viés que nos faz acreditar que algo é muito mais complicado do que realmente é na verdade. Há algumas charadas matemáticas que se baseiam nisto e a solução é algo que a maioria das pessoas não pensaria. Por exemplo: tem um problema que dizem ser de uma entrevista de emprego da Amazon que apresentava um cabo preso em dois postes. A solução depende de uma simples observação, mas o problema é apresentado de uma forma que a maioria das pessoas pensa que precisa de uma série de contas complicadas para resolvê-lo. Isto se relaciona bem a lição do próprio Mark "A resposta certa não está sempre visível num primeiro momento".
Eu acho que tem uma questão de humildade aqui, porque frequentemente nos sentimos acima da média porque resolvemos problemas complicados e, ainda assim, falhamos com problemas muito mais simples. Uma vez eu estudei matemática errado, achando que os problemas complexos eram mais importantes. Em geral a abordagem que tive é um fracasso porque você perde muito tempo tentando resolver algo que não é capaz de resolver, enquanto isso você ignorou aprender o básico primeiro. Isto é muito parecido com tentar achar a solução fora da caixa primeiro, não dentro dela. Em outras palavras: às vezes a resposta está muito mais perto do que imaginados que realmente está. Eu poderia até dizer que isto se aplica na psicologia também. Porque estudar os relacionamentos tóxicos me trouxeram um conselho importante. Pessoas tóxicas são tóxicas porque o interior delas é tumultuado. Você não pode trazer a paz se está em guerra dentro de si mesmo.
Para citar um exemplo sobre design de níveis e design de jogos. Geralmente as pessoas querem fazer algo totalmente diferente. Elas querem um nível ou jogo que seja avassalador. Eu perdi a conta de quantas vezes eu tentei construir um nível que estava além das minhas capacidades. Isto é bem próximo do que o Mark e eu mesmo dissemos sobre a faculdade. Se você não consegue construir um simples nível num jogo, como espera construir níveis grandiosos? O mesmo vale para programação de jogos. O básico sempre vem primeiro. Eu poderia dizer que se tem alguém obcecado com ser diferente, único, com se destacar, deve haver algum problema mental na cabeça da pessoa.
Referências (inglês)
Referências (português)
- Primeiro crie raízes - Max Gehringer. Eu escrevi primeiro, antes de escrever essa referência. Mas o tema encaixa aqui.